quarta-feira, 28 de abril de 2010

AMOR CERTEIRO – a Lenda Urbana de Obirici

Capítulo I


Cenário: A história se passa basicamente no belíssimo cenário das ilhas do Guaíba (que acho pouco explorado) – dos lugares mais bonitos de Porto Alegre.
Incorporei duas versões da mesma lenda, já que a primeira me parece mais pitoresca e a segunda tem mais elementos. Logo a seguir vem a minha versão da continuação. Funcionaria como uma ponte entre a Lenda e o romance atual.
A idéia é passar a Lenda e a continuação em desenho animado, antes (pequeno), como abertura simplesmente.

Atenção: toda a semelhança com o começo do O Pecado Mora ao Lado – nos respectivos inícios – é mera coincidência.

OBIRICI – I parte – Folclore - versão de Ary Veiga Sanhudo.

“Ora, pois, esta encantada cidade juvenil, como todo grande centro do mundo que se preza, também tem a sua enfeitiçada lenda de amor! Obirici é a donzela dos seus cuidados, cujo nome mágico no linguajar dos indígenas locais significa – bela serena flor da tarde!”

O local onde hoje se assenta a moderna e majestosa cidade de Porto Alegre não tinha, até 1742, um só habitante branco permanente, muito embora houvesse, espalhados pelo rincão de São Francisco, morro de Santa Teresa, vale da Cascata, colina dos Moinhos e Vento, baixada do Passo da Areia, várzea do Gravataí, vale do Jacareí e outros sítios, uma infinidade de índios da nação tupi ou guarani, mais conhecidos, nestas redondezas, por tribos dos Tapes, sob a invocação de “Tapiacus” e “Tapimirins”.

Esses índios, ao que se sabe, vieram pressionados pelos seus grandes inimigos, os Minuanos, e aqui se estabeleceram em tempos que se perdem na noite do tempo.

É evidente que outras tribos aqui tinham suas tabas, mas, é necessário frisar, que essa banda oriental das terras que morriam nas serenas águas do Guaíba, agora conhecida como zona norte da cidade, oferecia mais proteção aos selvícolas, tendo em vista o baluarte natural, representado pelo espigão da Serra Geral, que poeticamente vinha descambar próximo às areias da barra, aí na boca do rio, defronte à ilha da Pintada.

Abrigavam-se, então, por aí, resguardadas pelas águas e defendidos pela montanha.

E nisto não se pode deixar de observar que, com a chegada do branco invasor, e mesmo depois da vinda dos casais açorianos, esses indígenas, ao contrário dos outros, que procuravam fugir de qualquer maneira, não só permaneceram em suas ocas, como ainda, aliando-se aos adventícios, muito contribuíram para a prosperidade e desenvolvimento da primitiva povoação do Porto do Dorneles.

É certo que muito influiu, para a tolerante e diversa atitude dos s elvícolas da hoje cidade de Porto Alegre, a circunstância excepcional do elemento líquido que rodeia nossas terras e a fortaleza dos montes, onde esses primitivos habitantes, mais tranqüilos, circulavam livremente com suas “pirogas” e “igarás”, quer caçando, quer passeando ou quer bombeando o inimigo.

Daí porque, no local onde é agora o Passo da Areia, estabeleceram os seus toldos os “Tapimirins”, tribo aguerrida que muita luta travou não só com os “Tapiacus” , como ainda com os terríveis “Minuanos”, transformando essas baixas paragens em verdadeiros campos de batalha. Porque era só o inimigo descer o dorso do morro e a peleia campeava feroz e exterminante!

Era ali, pois, uma nação em permanente alerta.

E ocorreu, então, que em meio de tantos heróis valentes, um chefe surgiu, natural e pomposamente, impondo-se, e sobretudo aparentando singular valor e riqueza, de vez que sua linda tenda, diferente em tudo, era, ademais, protegida por inexpugnável cerca de varas de camboim e cambará.

Era um verdadeiro palácio em meio da simplicidade geral das “ocas” improvisadas e paupérrimas.

E como não podia deixar de ser... era o gostosão daquelas paragens... vivamente requestado pelas mulheres de todas as tribos!

Duas jovens, não obstante, disputavam das graças do grande cacique, deixando-o em visível incerteza quanto à preferida.

Até que um dia, depois de muito pensar, mesmo porque a situação cada vez se tornava mais embaraçosa, resolveu o chefe índio que seria a eleita do seu coração aquela que conseguisse sair vencedora num torneio de flechas.

E assim, numa bela e sorridente manhã de primavera, chamou as duas belas guaranis e, dando-lhes uma flecha a cada uma, disse: – “Casar-me-ei com aquela que vencer o torneio!”

Não há dúvida que as rivais tiveram um sobressalto e entre o embaraço e a surpresa começou a contenda.

A vencedora, cujo nome a lenda não guardou, provavelmente mais calma e mais dona de si, cheia de faceirice morena de moça dos campos, levantou a flecha, distendeu o arco e acertou na borda do alvo plantado pelo guerreiro amado a uns metros de distância.

Obirici, tímida e sensível, apercebendo-se do perigo que o seu coração amante enfrentava, lançou, trêmula, a sua flecha, que passou longe do cepo que servia de alvo.

Havia perdido o torneio e com ele o seu grande amor!

A lenda diz que precisamente era ela quem mais o amava, e daí uma tristeza imensa a invadiu definitivamente.

E tão desiludida e agoniada ficou, que se recolheu, dentro da sua infelicidade, à sua oca, com o coração partido e alma voltada para o infortúnio e a morte, pedindo sinceramente a Tupã que mandasse um raio para terminar-lhe com aqueles dias da sua vida amargurada. Só aspirava, pois, uma coisa: morrer!

Daí que a formosa indígena, banhada num desespero imenso e numa dor pungente, voltou assim suas ardentes súplicas aos céus, implorando ao deus da sua devoção que a levasse aos seus insondáveis reinos do infinito!

No seu desespero pôs-se a chorar, e tanto chorou, reza a tradição, que as suas lágrimas, depois de desfigurarem o seu belo rosto, continuaram dia e noite a cair, cristalinas e luminosas, e correndo sobre a terra arenosa, que os seus pés vacilantes pisavam, deixaram nela, para sempre, o regato que os indígenas chamavam Ibicuiretã, ou seja, o nosso conhecido Arroio da Areia, lá no passo do mesmo nome, e ora encoberto em boa parte pela urbanização da atual avenida Tapiaçu.

Quem, pois, hoje, ao passar ao lado das águas barrentas e sujas daquele grande valo ao longo da Avenida Rio São Gonçalo, no bairro Passo da Areia, e que nasce naquela baixada para os lados do Country Club, no arrabalde Boa Vista, pode imaginar que tão insignificante acidente geográfico, atualmente ponto quase perdido da cidade, acendeu na imaginação ingênua do nosso aborígine uma tão maravilhosa lenda de amor e paixão?

Como se vê desta narração, essa foi a lenda, ou melhor, a explicação que os nossos índios lançaram mão para justificar a existência daquelas águas lodosas que se escoam lá na baixada do Passo da Areia, então conhecida entre os naturais, antes da chegada dos açorianos a estes campos de Viamão, como o lugar em que as águas correm sobre o pó: Ibicui-retã!

Obirici era uma linda índia da tribo Tapimirim, que morava aí para as bandas do Passo da Areia, à margem do riacho que acima descrevemos, no lugar conhecido pelos silvícolas pelo nome de Tapiaçu, ou seja, aldeia grande, e cujos sentimentos, naturalmente reforçados pela imaginação e o tempo, inspiraram essa página, a mais bela e encantadora crônica desta aprazível cidade sorriso.

Eis aí, pois, a lenda de amor da cidade!

Teria ficado a nossa crônica só nisso, e não passaria a outras esferas da arte, embora seja uma página deliciosa e admirável, desenterrada da história deslumbrante da cidade, não fora os fluídos de imaginação e sensibilidade que inspiraram a musa do compositor Gabriel Padilha que, enfeitiçado pela lenda da bela Obirici, divulgada nas páginas do mais querido vespertino da cidade – Folha da Tarde – a musicou e, apresentando ao grande público, transformou tão fascinante tema numa agradável canção popular, intitulada “Canção de Obirici”.

I

Não sabias que o amor,
É tudo o que a gente tem,
Tudo o que se pode dar...
E não se pode negar...

II

Obirici, virgem morena,
De olhos verdes cor do mar,
Essas lágrimas de amor,
Dos teus olhos a chorar...
Parecem gotas de orvalho,
São como chuva de estrelas,
No firmamento a brilhar,
Tupã ouviu tua prece,
E fez nascer do teu pranto,
Um riacho de saudades,
Daquele amor puro e santo,
Obirici... Obirici...

4 comentários:

  1. Lindo,já despertou minha curiosidade do que virá.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. rose,
    .
    deletei o q postei sobre leverger por cortar a
    continuidade precisa do amor certeiro. ainda bem que de certeiro, aquela união de leverger não tem nada.
    .
    já vou para o próximo. rás!

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